O Bradesco, segunda maior instituição financeira privada do País, anuncia hoje os resultados de 2008, abrindo assim, como já se tornou uma tradição, a safra de balanços dos gigantes setor. As projeções indicam que a instituição teve novamente um ano de fortes
lucros
na atividade, bem como os outros três maiores bancos brasileiros de capital aberto, Banco Itaú Holding Financeira, Banco do Brasil (BB) e Unibanco. Juntos, os quatro podem ter alcançado ganhos próximos de R$ 29 bilhões, cerca de 15% superior ao obtido em 2007, conforme expectativas da agência classificadora de risco Austin Rating.
Os dados mostram a solidez do sistema bancário do País, em um momento em que centenários e renomados bancos norte-americanos e europeus estão fechando as portas ou apresentando perdas bilionárias por causa da crise.
A estimativa da Austin para o resultado líquido do Bradesco é de R$ 7,86 bilhões no ano passado, praticamente empatado aos R$ 8 bilhões apurados em 2007. O patrimônio líquido da instituição poderá ficar em R$ 35,5 bilhões, com uma
rentabilidade
sobre o PL de 22,1%. No final de setembro estava em 23,5%. “A rentabilidade dos bancos privados, apesar de as projeções indicarem leve redução, é muito boa”, avalia Luís Miguel Santacreu, analista de instituições financeiras da Austin. A rentabilidade do Itaú pode girar ao redor de 23,4% (ante 25% ao final de setembro) e do Unibanco, de 21,3% (22,7%). A do BB sobe de 28% para 32,9%. Para o quarto trimestre, a estimativa é de R$ 1,85 bilhão de lucro para o Bradesco, ante os R$ 2,19 bilhões de igual intervalo de 2007 e queda de 4,6% comparativamente ao terceiro trimestre de 2008. Santacreu observa que as projeções são conservadoras e consideram a possibilidade de os bancos terem desacelerado um pouco a oferta de crédito e elevado o nível de provisionamento para fazer frente a uma eventual alta da inadimplência, por conta da crise e, principalmente, nos meses de outubro e novembro. O economista ressalta, contudo, que as expectativas não refletem o tamanho da crise, já que os seus reflexos mais acentuados no mercado brasileiro começaram a partir dos quarto trimestre e serão melhor apurados a partir deste trimestre.
“Os principais bancos estimam uma evolução do crédito em torno de 15% em 2009, bem inferior em relação aos últimos anos (em 2008 o total cresceu mais de 31%). Essa desaceleração impactará as receitas dos bancos, mas eles continuarão bastante lucrativos este ano também.” Santacreu afirma ainda que ficam de fora dessas projeções ajustes de tesouraria e impactos de exposições a derivativos cambiais, por exemplo, que levaram muitas companhias brasileiras a elevados prejuízos em 2008.
O destaque nas previsões é para o lucro do Banco do Brasil, que poderá aumentar em mais de 100%, passando de R$ 5,05 bilhões em 2007 para R$ 10,26 bilhões no ano passado, influenciado, particularmente, por eventos extraordinários ocorridos no quarto trimestre de 2008. Entre eles, o banco já comunicou ao mercado que computou um ganho de R$ 5,32 bilhões com superávites atuariais da Previ, em decorrência da distribuição dos superávites obtidos pelo plano de pensão nos últimos três anos. Entre efeitos positivos e negativos não recorrentes, o BB informou que R$ 2,52 bilhões impactaram positivamente o seus lucros do quarto trimestre. Segundo a Austin, entre outubro e dezembro, o ganho do BB poderá ficar em R$ 4,4 bilhões, comparativamente aos R$ 1,21 bilhão de igual fase de 2007.
O economista diz que, aliado ao lucro significativo e as medidas de crédito tributário que reduziram a sua ponderação sobre o patrimônio líquido do BB, mais as aquisições (entre as quais a do Banco Nossa Caixa e quase 50% do Banco Votorantim) realizadas no ano passado, o BB começa 2009 bastante competitivo e fortalecido para avançar no crédito. “O lucro maior e as flexibilizações nas ponderações de crédito tributário deram mais robustez ao patrimônio líquido do banco, elevando a sua Basiléia.” Assim, o BB poderá produzir mais crédito, engordar mais o caixa e
lucrar
mais este ano. O banco poderá encerrar 2008 com patrimônio líquido de R$ 31,19 bilhões. O Itaú, que tem programado divulgar seus números em 26 de fevereiro, poderá apresentar ganhos de R$ 7,68 bilhões em 2008, com queda de 9% em relação ao ano anterior, resultado de efeitos não recorrentes expressivos que elevaram seus lucros mas que, diferentemente do BB, aconteceram em 2007. Já o lucro líquido do Unibanco, também por efeitos que engordaram os seus números de 2007, poderá recuar em torno de 17%, a R$ 2,85 bilhões no ano passado. Santacreu lembra que, se comparados apenas os ganhos dessas instituições – que se fundiram em novembro do ano passado se transformando no maior conglomerado bancário da América Latina, o Itaú Unibanco – na atividade, os lucros crescem. Para o quarto trimestre, a previsão para Itaú é de R$ 1,75 bilhão de lucro e para Unibanco, de R$ 654,28 milhões.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados – Pág. 1)(Iolanda Nascimento) 02/02/2009