Os mercados financeiros passam por uma mudança completa de paradigma. Essa é a visão para o chefe global da área de estratégias de câmbio do HSBC, David Bloom. Nesse novo mundo, avalia ele, as lógicas de antes podem não valer mais e é preciso adotar novas formas de analisar risco e oportunidade.
Rukhsana Hamid / Bloomberg News
David Bloom, chefe global para câmbio do HSBC: “Nada mais é intocável”
“Nada mais é intocável”, afirma. Para Bloom, o refúgio que se observou no dólar não foi uma fuga para a qualidade, mas para a liquidez.
O economista-chefe do banco inglês, Stephen King, concorda que está ocorrendo uma persistência em manter os recursos líquidos e avalia que este será provavelmente o ano mais difícil para a economia global desde a década de 30.
Para King, o momento não é de prever a recuperação, mas de focar em maneiras de evitar um agravamento da situação da economia global. Ele avalia que haverá um encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, que pode chegar a ser de 1,5%, pois não há tantos países suficientemente fortes para manter a média em terreno positivo.
Ele cita a China, mas lembra que mesmo esta não irá crescer tanto quanto nos últimos anos.
Já David Bloom pondera que, em termos relativos países como a China, a Índia e o Brasil estão numa situação mais confortável e podem vislumbrar horizontes melhores do que boa parte das economias do mundo.
Para o chefe de estratégias de câmbio do HSBC, esses países devem aumentar sua importância gradativamente. “Vamos dizer que isso seja um incêndio e aí você olha uma montanha onde não está pegando fogo, há até passarinhos: aí se vislumbra o Brasil, a Índia e a China”, brinca ele, lembrando porém que o caminho até lá é complicado e ainda cheio de perigos.
Bloom acredita que o fluxo de recursos que se observou para o dólar não foi uma fuga para qualidade, mas sim para a liquidez. “Não sei mais o que quer dizer, hoje, fuga para a qualidade, mas não creio que seja o dólar. A busca pelo dólar é pela liquidez e isso não tem necessariamente a ver com valor”, diz o estrategista. “O que está se buscando agora é dinheiro em caixa”
Ele compara a crise atual com outros momentos de mudança total de perspectiva. “Nós precisamos reformar completamente a maneira como analisamos o mercado”, diz Bloom.
O estrategista diz que isso vai desde a sua rotina de trabalho até as políticas que estão sendo usadas para tentar conter a crise. Para analisar o risco de solvência, por exemplo, ele diz que passou monitorar os Credit Default Swaps (CDS) e a liquidez.
“Não observamos mais da maneira tradicional, estamos nos fazendo perguntas que nunca nos fazíamos”, diz Bloom.
No terreno das políticas, ele diz que coisas não convencionais também estão sendo usados, por conta do cenário. “Não sabemos o que vai funcionar ou não. Se está congelando lá fora e seu aquecimento quebra, aí você tenta coisas não convencionais, como ligar o secado de cabelo. Vai funcionar por quanto tempo? Não sabemos, isso nunca foi tentado antes”, compara o chefe para a área de câmbio do banco inglês.
O economista-chefe Stephen King também vê esse movimento e cita a emissão de moeda para tentar conter a deflação como um exemplo. Embora um tanto contrariado com a idéia das políticas pouco convencionais, King admite, porém, que a busca por soluções conjuntas de regulação em reuniões como a do G20, que vai ocorrer em Londres, em abril, são positivas.
Para o debate do encontro, ele sugere a discussão sobre controles quantitativos no sistema financeiro. “Uma política anticíclica relacionada ao índice de capitalização no caso dos bancos, por exemplo.”