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Os trabalhadores bancários estão em greve desde o último dia 24. A paralisação nacional consolida e amplia a cada dia. O que levou a categoria, formada por 468 mil bancários no País, a cruzar os braços em pleno processo de retomada do crescimento econômico, pós-crise irradiada a partir dos Estados Unidos, centro financeiro mundial?
Ao contrário de outros setores da economia brasileira, o sistema financeiro não sofreu os impactos da crise. Em 2008, foi o mais rentável. Enquanto a rentabilidade média de 188 bancos foi de 20,3%; a média nacional ficou em 8,57%, segundo levantamento da Austin Rating (FSP, 26 set.). Neste ano, como indicam os resultados obtidos no primeiro semestre, a rentabilidade será maior. Os 21 maiores bancos somaram lucro líquido de R$ 14,3 bilhões. A crise mundial, na verdade, possibilitou ainda mais a concentração do sistema. Os 10 maiores bancos, que em setembro do ano passado concentravam 84,3% dos ativos totais, ampliaram sua participação para 88,9% (FSP – 22 set.). O que, inclusive, impõe uma nova regulação.
Mesmo nesse cenário bastante favorável, a ganância dos bancos não diminui. No primeiro semestre fecharam 2.224 postos de trabalho, como mostra estudo da Dieese (Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicos), em parceria com a Contraf (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), da qual o sindicato é filiado. E usam a rotatividade para reduzir a média salarial dos bancários. De janeiro a junho foram desligados 15.459 trabalhadores, principalmente em decorrência dos processos de fusões/incorporações, e contratados 13.235 bancários. Os desligados recebiam remuneração média de R$ 3.627,01; os contratados, R$ 1.928,92.
Na campanha salarial deste ano, o slogan é “Os Bancos Abusam. Cadê a Responsabilidade Social?” E abusam mesmo, seja trabalhador, cliente ou usuário. Dos cinco principais bancos, quase todos conseguem pagar totalmente a folha de salários apenas com a receita obtida com tarifas, segundo o citado Dieese/Contraf, ao analisar os balanços entre 2004 e 2008. Além de abusar, os bancos insultam seus funcionários. Depois de cinco rodadas de negociação, negaram garantir o emprego, querem reduzir de 83 meses para 71 meses o período de concessão do auxílio-creche, propuseram reajuste salarial de 4,5%, que tão somente repõe a inflação dos últimos doze meses (setembro/08 a agosto/09), acumulada em 4,4% (INPC), e querem reduzir drasticamente os valores a ser distribuídos a título de Participação nos Lucros e Resultados (PLR). Pela proposta rejeitada pelo Comando Nacional dos Bancários, na mesa de negociação, os seis maiores bancos do País (Banco do Brasil, Itaú-Unibanco, Bradesco, Caixa Federal, Santander e HSBC) deixariam de distribuir mais de R$ 1,2 bilhão (Dieese). Simplesmente querem reduzir de 15%, como foi em 2008, para 5,5% do lucro líquido o montante a ser distribuído, limitando o pagamento a 1,5 salário (em 2008, foram 2,2 salários) e a R$ 10.000,00 (em 2008 foi R$ 13.862,00). E querem mais. O valor adicional da PLR, que ano passado podia chegar a R$ 1.980,00, cai para R$ 1.500,00. Resultado: os citados seis bancos, que pagaram R$ 2,8 bilhões no ano passado, ao anualizar os lucros do primeiro semestre deste ano, pagariam R$ 1,6 bilhão.
Diante de números superlativos, de uma saúde financeira robusta, podemos dizer que os bancos reúnem todas as condições para atender as reivindicações dos trabalhadores. Mas, como diálogo até o último dia 17 não possibilitou a construção de um acordo, os bancários decidiram pela greve. Porém, o Comando Nacional dos Bancários já reiterou a necessidade de retomada do processo de negociação. Os bancos, no entanto, permanecem irredutíveis. Com essa postura, são neste momento os responsáveis pela greve.
Jeferson Rubens Boava, presidente do Sindicato dos Bancários, Financiários e Cooperavitários de Campinas e Região.
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