Com a divulgação do balanço do Bradesco, ontem, que reportou lucro líquido de R$ 1,811 bilhão, com queda de 5,2% em 12 meses, os três grandes bancos privados já publicaram seus dados trimestrais. Completado um ano do agravamento da crise, os números mostram uma clara tendência de superação dos efeitos da turbulência financeira global na medida em que a inadimplência recua e o apetite por crédito reaparece.
Os ganhos ainda estão em patamares inferiores aos de 2008, mas diferentemente do ocorrido em outros países, as instituições brasileiras conseguiram manter as margens financeiras elevadas ao longo de 2009. Mais do que isso, em nenhum momento, nem mesmo no quarto trimestre do ano passado, tiveram problemas para reportar balanços positivos.
No acumulado do ano, o lucro líquido somado de Itaú Unibanco, Bradesco e Santander atingiu R$ 14,1 bilhões, entre janeiro e setembro, com queda de 7,6% em relação ao mesmo período do ano passado (R$ 15,3 bilhões). A redução indica que os bancos ainda não se recuperaram totalmente dos efeitos da retração do crédito, que durou até o fim do primeiro semestre.
A expectativa, no entanto, é que a partir de agora as condições sejam substancialmente melhores. O principal indicador que já deu fôlego aos bancos e permitiu mudar a estratégia foi a inadimplência, que apresentou estabilidade na pessoa física e melhora entre as empresas. Isso levou a uma redução das despesas com calotes e liberou espaço para ampliação das margens do crédito. No Bradesco, as despesas com atrasos caíram 34,2% no trimestre. No Itaú, a redução foi de 7,6%.
A visão é que o cenário de risco já se mostra mais favorável, o que deve garantir não só menores despesas com provisão para perdas futuras, como também traz de volta a disposição dos bancos privados para conceder empréstimos.
O próximo ano promete uma nova corrida pelo crédito, com a previsão de expansão da carteira superior aos 20%. “Estamos nos preparando para a grande perspectiva de 2010, com crescimento bastante acelerado da economia”, disse Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, ao comentar os resultados da instituição, de Londres.
Sem perder tempo, o Bradesco aproveitou a teleconferência de resultados para informar a ampliação em quase 50% dos prazos das linhas para pessoas físicas e para as pequenas e médias empresas. A decisão foi tomada, segundo o presidente do banco, para aproveitar o momento do fim de ano e aquecer os motores para 2010. “O Brasil vai viver um momento espetacular de consumo”, completou.
Essa mudança de tendência também foi observada pelo diretor-executivo do Itaú Unibanco, Silvio de Carvalho, ao divulgar o balanço na terça-feira. “Foram dois momentos distintos no ano, com o segundo semestre mostrando melhoria significativa da economia”, disse.
Os bancos também esperam que a concorrência se acirre nesse novo ambiente de expansão da economia e a consequência pode ser margens mais apertadas. “A tendência é que caia no longo prazo pela redução dos spreads e pelo crescimento em operações com ganhos menores, como o crédito imobiliário”, disse Domingos Abreu, vice-presidente executivo do Bradesco.