Apesar de não terem sido atingidos pela crise e de manterem o ritmo de crescimento de seus lucros, os bancos que operam no Brasil fecharam 2.076 postos de trabalho entre janeiro e setembro de 2009, segundo estudo elaborado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O fechamento dessas vagas ocorreu nos bancos privados, sobretudo em razão das fusões, compensadas em parte pelas admissões nas instituições financeiras públicas.
O estudo, que toma por base dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, mostra ainda que os bancos estão usando a rotatividade para reduzir a média salarial dos trabalhadores e que mantêm a discriminação em relação às mulheres, que estão sendo contratadas com salários inferiores aos dos homens.
As empresas financeiras desligaram 22.803 bancários e contrataram 20.727 nos primeiros nove meses do ano. É uma inversão do que ocorreu no mesmo período do ano passado, quando houve um aumento de 14.366 novas vagas no mesmo período (44.614 contratações e 30.248 afastamentos).
Período
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Admitidos
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Remuneração média (R$)
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Desligados
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Remuneração média (R$)
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Saldo
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Diferença da Remuneração média (R$)
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Janeiro a setembro de 2008
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44.614
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1.960,56
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30.248
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3.224,09
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14.366
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-39,19%
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Janeiro a setembro de 2009
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20.727
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2.051,80
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22.803
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3.494,25
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-2.076
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-41,28%
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Fonte: MTE/Caged. Elaboração: Subseção Dieese/Contraf-CUT
“Os bancos estão na contramão do movimento que a economia brasileira está seguindo. Enquanto os demais setores econômicos criaram 932 mil novos postos de trabalho de janeiro a setembro com a retomada do crescimento, os bancos, que não sofreram nenhum impacto com a crise, estão fazendo o contrário”, critica Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT. “Isso é ainda mais injustificável quando sabemos que o sistema financeiro continua tendo a maior rentabilidade de toda a economia e os cinco maiores bancos apresentaram lucro líquido de R$ 22,1 bilhões nos primeiros nove meses do ano.”
Os dados do Caged não permitem separar as contratações e desligamentos por banco, apenas por segmento do sistema financeiro: bancos comerciais, bancos múltiplos, bancos de investimentos e caixas econômicas. “Como neste último segmento só existe a Caixa Econômica Federal, que abriu no primeiro semestre 3.172 novos empregos, e sabemos que não tem havido demissões no Banco do Brasil e outros bancos públicos, a conclusão é que o fechamento de postos de trabalho está concentrado nos bancos privados, principalmente por causa dos processos de fusão do Itaú Unibanco e do Santander Real”, avalia Marcel Barros, secretário-geral da Contraf-CUT.
Demissões se concentram nos maiores salários
Além da redução do emprego, está havendo também uma diminuição na remuneração média dos trabalhadores do sistema financeiro. Os desligados de janeiro a setembro de 2009 recebiam remuneração média de R$ 3.494,25. Já os contratados têm remuneração média de R$ 2.051,80, o que representa uma diferença de 41,28% – quase a metade.
Isso porque os desligamentos foram concentrados nos escalões hierárquicos superiores e as admissões ocorrem principalmente nos cargos iniciais da carreira. Esse movimento intensificou a tendência observada no mesmo período do ano passado, quando a diferença entre os salários médios dos bancários contratados e desligados foi de 39,19%.
O gráfico abaixo mostra a quantidade de admitidos, desligados e saldo de emprego por faixa salarial. Apenas até a faixa de 2,01 a 3 salários mínimos o saldo de emprego é positivo; a partir de 3 salários mínimos o saldo passa a ser negativo. Esse é resultado de dois movimentos: o primeiro é de que as admissões estão concentradas na faixa de 2,01 a 3 salários mínimos e os desligamentos estão distribuídos pelas faixas superiores de salário.
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para acessar o gráfico que mostra o número de admitidos, desligados e saldo de ocupações de remuneração no Brasil entre janeiro e setembro de 2009.

Demitidos com alta escolaridade
Com relação à escolaridade, o levantamento revela uma contradição com o discurso amplamente difundido pelas empresas sobre a necessidade e a urgência da crescente escolarização como fator de empregabilidade: a grande maioria dos desligados (59,42%) tem educação superior completa. Clique aqui para acessar o gráfico.