Mesmo com o aumento da renda e dos esforços de bancarização nos últimos anos, cerca de 40% dos brasileiros ainda não têm conta em banco. O maior contingente de “excluídos bancários” está nas regiões Nordeste (52,6% dos habitantes) e Norte (50%). Os dados fazem parte do estudo “Bancos: Exclusão e Serviços”, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), baseado em informações colhidas com 2.770 entrevistados de todas as regiões do país. Segundo o Ipea, 53,3 milhões de brasileiros acima de 18 anos não têm acesso aos bancos.
Nas regiões economicamente mais desenvolvidas, os correntistas são maioria, mas falta muito ainda para a universalização desses serviços. No Sudeste, região mais rica do país, quase 34% da população ainda não têm acesso a serviços bancários. No Sul, o percentual dos “sem conta” é um pouco menor, 30%.
Maioria busca crédito fora dos bancos
De acordo com o Ipea, a população de baixa renda e pouca escolaridade é que constituía a maior parte do contingente sem contas, embora represente uma parcela importante que está sendo absorvida pelo mercado de trabalho, devido ao crescimento econômico. Dos entrevistados pelo Ipea que cursaram até a 8ª série do primeiro grau, apenas 54,8% são correntistas de bancos, enquanto entre os que têm curso superior, esse percentual sobe a 88,5%.
Em relação aos serviços oferecidos pelos bancos, para 62,1% dos entrevistados o principal é movimentar dinheiro (saques e depósitos). Apenas 4,5% dos entrevistados disseram que emprestar dinheiro é uma função importante. Segundo o Ipea, esse dado indica que a maioria das pessoas ainda busca crédito de outras formas, muitas vezes ilícitas (agiotas) ou em instituições e lojas que não são fiscalizadas nem seguem a regulamentação do sistema financeiro.
É preocupante. Tomar crédito, para uma boa parte da população, não tem relação com o futuro, só serve para acertar o passado. E sai muito mais caro devido aos juros maiores, principalmente para os que têm menor renda destaca o presidente do Ipea, Marcio Pochmann.
De acordo com o estudo, para mais de um terço das pessoas com conta (35,3%), foi o empregador que escolheu o banco onde é correntista. Já a tradição e a relação familiar foram os motivos citados para a escolha do banco por 17,5% dos entrevistados. A confiança foi apontada por 17,2% dos correntistas.
Mesmo não sendo a maioria, 40,3% dos entrevistados que não têm conta em banco disseram desejar ser incluídos no sistema. Por isso, segundo o Ipea, é necessário criar produtos e serviços específicos para absorver esse público e “socializar o acesso a esse bem público”.
Hoje, boa parte desses não bancarizados só tem acesso ao crédito pelo varejo (pelos cartões de loja), situação em que os juros são maiores que o do CDC (crédito direto ao consumidor) ou outras formas concedidas pelos bancos. A exclusão é gritante, e a precarização da oferta de serviços é que faz pensar como se dará essa política de preparar a inclusão bancária – destacou a coordenadora executiva do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), Lisa Gunn, que colaborou com a pesquisa.
O diretor de Relações Institucionais da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Mário Sérgio Vasconcelos, diz que o alto número de pessoas sem conta bancária não é uma exclusividade do Brasil, mas algo comum na América Latina. Ele argumenta que a regulação rigorosa do sistema bancário brasileiro não permite que alguns consumidores se tornem correntistas, já que não conseguem atender às exigências. Mesmo assim, de 2000 a 2009, segundo a entidade, a bancarização cresceu a uma taxa de 110% no Brasil:
Hoje existem discussões das autoridades reguladoras para facilitar ou promover o ingresso dessa importante parcela da população que está entrando no mercado agora.
Embora os bancos estejam no segundo lugar do ranking de reclamações do Idec, a pesquisa do Ipea aponta que 78,8% dos clientes de bancos entrevistados consideram o tempo para realizar operações bancárias satisfatório ou muito satisfatório. Em relação à segurança nas agências, a satisfação alcançou 78,2%.
Fonte: O Globo
12/01/2011
Excluídos dos bancos são 40% dos brasileiros
Levantamento mostra que 53,3 milhões de brasileiros acima de 18 anos não têm acesso aos serviços bancários