Sindicatos se reúnem com Fábio Barbosa e cobram diálogo
São Paulo 29 de julho de 2009.
Ao
Grupo Santander Brasil S/A
Presidência
Att. do Sr. Fábio Barbosa
Senhor Presidente:
Ref.: Falta de negociações, descumprimento de acordo e prática anti-sindical.
Na qualidade de representantes constitucional dos trabalhadores desta instituição financeira, vimos manifestar-lhe a nossa profunda insatisfação diante do tratamento desrespeitoso que temos recebido. Diariamente vemos o banco gastar milhões de reais para propagandear sua imagem nos meios de comunicação, focando “o valor das idéias”, ao mesmo tempo em que somos desconsiderados, apesar da nossa importância no relacionamento com os clientes. O valor do trabalho nada significa para o banco?
Verificamos que o banco tem adotado procedimentos que revelam uma prática anti-sindical, o que é abominável. Por exemplo, a cartilha lançada recentemente apresenta conquistas da mobilização dos bancários e do processo de negociação com a Fenaban, como o vale-alimentação e o auxílio-creche, como se fossem benefícios concedidos generosamente pelo banco. O valor da negociação nada representa para o banco?
O banco extinguiu de forma unilateral o plano do HolandaPrevi vigente para funcionários admitidos até 31 de maio de 2009, implantando um novo plano com redução de aporte de recursos financeiros, o que diminuirá as complementações de aposentadorias e pensões. As entidades sindicais tentaram abrir negociações, mas sem êxito. O valor do diálogo não importa para o banco?
O Banesprev está convocando uma assembléia geral extraordinária para o próximo sábado, dia 1º de agosto, para aprovar uma reforma nos estatutos, sem que o banco tenha sido constituído o Grupo Técnico de Trabalho, previsto no Termo de Compromisso assinado junto com os aditivos à Convenção Coletiva de Trabalho 2008/2009 no dia 30 de março. Trata-se de flagrante descumprimento de acordo. O valor do compromisso não tem importância para o banco?
Também ocorreram mudanças sem qualquer diálogo nos planos de saúde dos funcionários, elevando custos (despesas para os trabalhadores). O novo seguro de vida em grupo não considera elegíveis os empregados oriundos do Banespa, aumentando a discriminação no banco. O valor da igualdade não tem significado para o Banco?
Lembramos que, no processo de fusão do Banco Real, buscamos negociações e reivindicamos a preservação de direitos e a adoção de planos de realocação de funcionários dos centros administrativos para a rede de agências. Assinamos dois Aditivos que garantem incentivos para aposentadorias. Essas medidas abriram vagas e evitaram demissões, mas, ao mesmo tempo, uma onda de dispensas fechou mais de 900 postos de trabalho no primeiro trimestre deste ano. Dessas demissões muitas eram de pais e mães de família próximos a aposentadoria, outros tantos de trabalhadores adoecidos. O valor do emprego não é relevante para o banco?
Defendemos ainda o respeito e a preservação de direitos dos aposentados do banco. Muitos são ainda discriminados nas agências. Milhares de ações judiciais tramitam na Justiça do Trabalho, cuja liquidação vem sendo travada por recursos protelatórios do banco. O valor do respeito não é importante para o banco?
Além disso, a continuidade das metas abusivas para venda de produtos, a agressividade na atuação no mercado e a falta de funcionários tornam o ritmo de trabalho alucinante, provocando sobrecarga de serviço, estresse e aumento das doenças ocupacionais. Nenhuma medida tem sido tomada pelos gestores do banco para resolver essa situação, muitas vezes desumana. Quem olha a modernidade das instalações das agências e postos não consegue imaginar as precárias condições de trabalho dos bancários. O valor da dignidade não deveria ser cultivado pelo banco?
Essa postura do banco contradiz a importância do Brasil para o Santander no mundo. Conforme os dados do balanço de 2008, o País representa cerca de 20% do lucro global e um terço dos trabalhadores no mundo. Contudo, sem medo de errar, afirmamos que os resultados no Brasil podem ser melhores e maiores, desde que ocorram mudanças na forma de gestão da empresa.
No balanço contábil de 2008 foram lançados ágios e provisões que reduziram o lucro líquido à metade, causando sérios prejuízos à PLR (Participação nos Lucros e Resultados) dos trabalhadores e nos dividendos distribuídos aos acionistas que, apesar de mantidos no patamar de 2007, poderiam ter sido muito maiores.
Agora, o Santander anuncia uma abertura de capital da ordem de R$ 4 a 6 bilhões. Para que servirá essa captação de recursos? Serão revertidos para a Espanha para superar sua crise bancária e os investimentos de risco do Santander, como por exemplo, o fundo Madoff? E no Brasil ficarão o desemprego e o desrespeito?
Entendemos que quem quer ser o maior banco do País, tem que ser o melhor, tanto do ponto de vista do trabalhador quanto do cliente. Queremos, exigimos e reivindicamos que todos os trabalhadores sejam igualmente recompensados pelo seu trabalho no desempenho do Santander no Brasil.
Acreditamos que a negociação é o melhor caminho para o entendimento, pois permite que todos ganhem. Queremos que os trabalhadores ganhem, que os acionistas ganhem e que o Brasil ganhe e cresça com a presença do Santander.
Reforçamos o que foi dito ao presidente mundial do Santander, Emílio Botin, pela diretora do Sindicato dos Bancários de são Paulo, Rita Berlofa, durante a recente assembléia dos acionistas, na Espanha.
Conforme Rita, “a grande maioria dos novos correntistas NÃO escolherá seu banco por que ele é um grande banco internacional e sim por ser um banco que de fato pratica a responsabilidade social, a partir do respeito aos direitos e empregos de seus funcionários.” Terá mais sucesso aquele que respeitar o Brasil e os brasileiros, a começar pelos seus próprios trabalhadores.
Na ocasião, Botín respondeu que “a relação com os sindicatos se baseia no diálogo e compromisso e que as diferenças devem ser tratadas e solucionadas com diálogo. Esse é o nosso modelo vigente em todo o grupo”. Mas não é isso que está acontecendo no Brasil. Não conseguimos sequer dialogar com a Diretoria de Recursos Humanos. Botín ainda disse que “a direção no Brasil promoverá sempre o diálogo e a participação”. O valor da palavra do presidente mundial do Santander será colocado em prática pelo banco?
Isto posto, solicitamos-lhe a marcação de uma audiência, dentro da maior brevidade possível, a fim de que possamos estabelecer uma nova relação com as entidades sindicais e os trabalhadores, com base no diálogo, na negociação, no compromisso e no respeito. Enfim, queremos que o Santander respeite o Brasil e os brasileiros.
Atenciosamente
Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região – CUT
Contraf-CUT, Fetec/SP-CUT, Feeb-SP/MS, Sindicatos e Federações, Afubesp
Obs. C/Cópia para o Sr. Emílio Botín
Contraf-CUT