As ações do Banco Industrial e Comercial (BicBanco) dispararam 22,65% e encerraram o
pregão
cotadas a R$ 6,01, impulsionadas por rumores de mercado sobre eventuais negociações de venda do controle da instituição ao Bradesco. Foi a maior alta da bolsa ontem. Sediado em São Paulo e controlado pela família Bezerra de Menezes, o BicBanco comunicou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que não existem negociações, “propostas, ou fatos quaisquer”, de alienação total ou parcial do capital do banco por parte dos controladores. O Bradesco informou, também em nota, que não comenta rumores de mercado.
Especialistas do setor contudo, acreditam que os comentários podem fazer algum sentido. A alta repentina dos papéis, que não estão entre os mais líquidos da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F Bovespa) e chegaram a subir 73,54% (preferênciais) desde 1 de novembro, pode ser um indicativo de que informações sobre a suposta transação estariam vazando há tempos, o que, se comprovado, é passível de punição pelos órgãos reguladores. Outro fator é que o mercado bancário brasileiro vive um dos momentos mais intensos de consolidação em virtude da crise financeira mundial. Movimento que resultou, inclusive, na perda pelo Bradesco da posição de maior banco privado do País para o Itaú Unibanco, formado com a fusão, em novembro, das operações do Banco Itaú Holding Financeira e do Unibanco – hoje a maior instituição financeira da América Latina com ativos de R$ 575,1 bilhões.
O Banco do Brasil, antes dessa fusão o maior do País em ativos e que atualmente ocupa a segunda colocação, com R$ 553,3 bilhões, também está indo às compras em uma tentativa de voltar à liderança e já concluiu, de novembro para cá, a aquisição de uma participação de quase 50% no Banco Votorantim e o controle do Banco Nossa Caixa.
“O Bradesco sempre foi conhecido como o maior banco do Brasil e deve estar se movimentando para voltar a essa posição e não perder competitividade”, afirma o economista e coordenador do curso de administração das Faculdades Integradas Rio Branco, Douglas Renato Pinheiro, para quem, além do movimento de consolidação no País, a agressividade de atuação no mercado local de bancos multinacionais, como HSBC Bank e Santander, também deve estar sendo levada em consideração pela instituição com sede em Osasco (SP). “Dá para crescer organicamente, mas é mais demorado que uma compra ou uma fusão”, diz Pinheiro, ressaltando que esse movimento também é uma busca de fortalecimento dos bancos diante da crise.
O
analista
de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, observa que uma eventual aquisição do BicBanco pelo Bradesco não mudaria as posições atuais no ranking. Fundado em 1938 como Cooperativa de Crédito do Joazeiro, na região sul do Ceará, o BicBanco fechou setembro de 2008 com R$ 13,18 bilhões em ativos totais. Na mesma data, o Bradesco ostentava R$ 422,7 bilhões, a terceira colocação no ranking. Caso a compra seja confirmada, a colocação não mudaria, pois os ativos somados seriam de R$ 435,8 bilhões.
Santacreu lembra, entretanto, que, se o BicBanco estivesse à venda e o Bradesco interessado na compra, seria uma boa aquisição. A instituição de origem cearense abriu capital em 2007 e viu seus números engordarem com a injeção de capital e o bom momento da economia. Os ativos totais cresceram 37,3% em 12 meses até setembro último e o patrimônio líquido aumentou 62,5%, a R$ 1,71 bilhão. Especializado em operações de crédito para o middle market, o BicBanco é o maior do setor entre os privados de pequeno e médio portes e sua carteira alcançou R$ 9,75 bilhões em setembro, avanço de 50,8% em um ano. “Ele é um dos bancos focados em middle market dos mais autênticos. Mais de 90% da sua carteira de crédito é voltada para as empresas médias e, se o Bradesco conseguisse manter essa habilidade, a estrutura de gestão, ficaria ainda mais completo com o negócio”, diz o economista da Austin, afirmando ainda que o banco tem governança corporativa avançada e gestão de passivos e ativos calibrada, com um sistema de captação pulverizado.
Segundo Santacreu, atualmente o banco valeria acima de duas vezes o seu patrimônio líquido, ou seja, o Bradesco teria de desembolsar mais de R$ 3,4 bilhões para ter o banco inteiro. A família Bezerra de Menezes, cuja fortuna foi originada no negócio de exportação de algodão e alguns membros ostentam patentes graduadas das forças armadas, detém 65,34% do capital total do banco e 98,58% das ações ordinárias.
O professor do laboratório de
finanças
da FIA, Keyler Carvalho Rocha, diz que uma possível negociação seria boa para ambos: o Bradesco se fortaleceria e o BicBanco ganharia escala, já que a crise deixou um espaço mais apertado para atuação dos menores.
Fonte:(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados – Pág. 1)(Iolanda Nascimento)